terça-feira, 31 de maio de 2011

Entendendo e Evitando a Engenharia Social: Protegendo Sistemas e Informações


Atualmente, informação constitui um bem de suma importância para as organizações dos mais variados segmentos. A Internet popularizada ao longo dos anos 90 permitiu a troca e disponibilidade de informações por meio da WWW (World Wide Web). Outros mecanismos de comunicação e troca de informações como correio eletrônico também têm proporcionado benefícios no uso profissional e pessoal. Note que a informação compreende qualquer conteúdo que possa ser armazenado ou transferido de algum modo, servindo a determinado propósito e sendo de utilidade ao ser humano. Dentro do universo de informações, muitas delas têm valor pessoal ou mesmo organizacional. Na grande maioria das situações, usuários de informações desconhecem seu valor e pode colocar a si ou uma instituição numa condição vulnerável, principalmente, quando diante de um engenheiro social, conforme discutido abaixo.

Necessidade de Proteger Sistemas


No contexto apresentado acima, a necessidade de prover segurança da informação e sistemas de informações tem sido uma questão constante nas organizações. A segurança da informação visa proteger os sistemas através de um conjunto de medidas que preservam informações e sistemas de informações, assegurando-lhes integridade, não repúdio, disponibilidade, autenticidade e confidencialidade.

Embora a grande maioria das organizações e usuários comuns possua mecanismos técnicos defensivos contra ataques, os quais exigem o usuário informar não apenas seu login (ou nome de usuário num sistema) e respectiva senha, bem como verifica a existência de vírus em arquivos, ainda assim os sistemas atuais são susceptíveis a ataques não técnicos decorrentes da engenharia social.
 
Considere a situação na qual um executivo de uma companhia, o qual na realidade não é funcionário dessa companhia, faz uma ligação telefônica ao administrador de sistemas dessa companhia. O executivo (i.e. engenheiro social ou hacker social) informa ao administrador de sistemas que se encontra numa viagem de negócios fora da cidade e precisa ter acesso a um relatório de um cliente a fim de fechar um negócio de milhões de reais. Em razão disto, solicita que o administrador de sistemas troque sua senha, permitindo-lhe digitar nova senha, pois do contrário ele não terá acesso ao relatório do cliente e, conseqüentemente, perderá um negocio de milhões. O administrador, então, tentando ajudá-lo emite um comando de reset para o login daquele usuário e, a partir daí, o suposto executivo obtém acesso privilegiado ao sistema da companhia, sem ter a necessidade de passar por qualquer mecanismo de detecção de intrusão.

 

Entendendo a Engenharia Social


 
Engenharia social, dentro da área de segurança de sistemas computacionais, é um termo utilizado para qualificar os tipos de intrusão não técnica, que coloca ênfase na interação humana e, freqüentemente, envolve a habilidade de enganar pessoas objetivando violar procedimentos de segurança. Um aspecto relevante da engenharia social compreende a inaptidão dos indivíduos manterem-se atualizados com diversas questões pertinentes a tecnologia da informação, além de não estarem conscientes do valor da informação que eles possuem e, portanto, não terem preocupação em proteger essa informação.

 
É importante salientar que, independente do hardware, software e plataforma utilizada, o elemento mais vulnerável de qualquer sistema é o ser humano, o qual possui traços comportamentais e psicológicos que o torna susceptível a ataques de engenharia social. Dentre essas características, pode-se destacar:
  •  Vontade de ser útil – O ser humano, comumente, procura agir com cortesia, bem como ajudar outros quando necessário.
  • Busca por novas amizades – O ser humano costuma se agradar e sentir-se bem quando elogiado, ficando mais vulnerável e aberto a dar informações.
  • Propagação de responsabilidade – Trata-se da situação na qual o ser humano considera que ele não é o único responsável por um conjunto de atividades.
  • Persuasão – Compreende quase uma arte a capacidade de persuadir pessoas, onde se busca obter respostas específicas. Isto é possível porque as pessoas têm características comportamentais que as tornam vulneráveis a manipulação.

Importante observar que o sucesso da engenharia social depende da compreensão do comportamento do ser humano, além da habilidade de persuadir outros a disponibilizarem informações ou realizarem ações desejadas pelo engenheiro social. Perceba ainda que o medo de perder seu emprego ou vontade de ascender pode resultar na entrega de informação de natureza proprietária. Nesse sentido, observa-se que a engenharia social possui uma seqüência de passos na qual um ataque pode ocorrer:
  • Coleta de informações – O hacker ou engenheiro social busca as mais diversas informações dos usuários como número de CPF, data de nascimento, nomes dos pais, manuais da empresa, etc. Essas informações ajudarão no estabelecimento de uma relação com alguém da empresa visada.
  • Desenvolvimento de relacionamento – O engenheiro social explora a natureza humana de ser confiante nas pessoas até que se prove o contrário.
  • Exploração de um relacionamento – O engenheiro social procura obter informações da vítima ou empresa como, por exemplo, senha, agenda de compromissos, dados de conta bancária ou cartão de crédito a serem usados no ataque.
  • Execução do ataque – O hacker ou engenheiro social realiza o ataque a empresa ou vítima, fazendo uso de todas informações e recursos obtidos.

Evitando a Engenharia Social

Especialistas afirmam que a medida que nossa sociedade torna-se cada vez mais dependente da informação, a engenharia social tende a crescer e constituir-se numa das principais ameaças aos sistemas de segurança das (grandes) organizações. Entretanto, embora as situações apresentadas acima sejam um tanto indesejáveis e até certo ponto assustadoras, há mecanismos através dos quais uma organização pode implementar a fim de detectar e prevenir ataques de engenharia social. Tais medidas visam, principalmente, atenuar a participação do componente humano. Essas medidas compreendem:
  •  Educação e Treinamento – Importante conscientizar as pessoas sobre o valor da informação que elas dispõem e manipulam, seja ela de uso pessoal ou institucional. Informar os usuários sobre como age um engenheiro social.
  • Segurança Física – Permitir o acesso a dependências de uma organização apenas às pessoas devidamente autorizadas, bem como dispor de funcionários de segurança a fim de monitorar entrada e saída da organização.
  • Política de Segurança – Estabelecer procedimentos que eliminem quaisquer trocas de senhas. Por exemplo, um administrador jamais deve solicitar a senha e/ou ser capaz de ter acesso a senha de usuários de um sistema. Estimular o uso de senhas de difícil descoberta, além de remover contas de usuários que deixaram a instituição.
  • Controle de Acesso – Os mecanismos de controle de acesso tem o objetivo de implementar privilégios mínimos a usuários a fim de que estes possam realizar suas atividades. O controle de acesso pode também evitar que usuários sem permissão possam criar/remover/alterar contas e instalar software danosos a organização.

Tenho observado que gasto milhares de reais na aquisição de ferramentas de segurança (detecção de intrusão, firewalls, etc) a fim de dotarem seus sistemas de maior segurança. Todavia, a maioria das empresas acredita que a solução, unicamente, técnica garantem a segurança dos sistemas. Embora eu concorde que a solução técnica seja necessária, ela por si só não é suficiente. É preciso também considerar o componente humano de um sistema de segurança da informação a fim de minimizar ou quiçá minimizar a vulnerabilidade de sistemas.

Por ANTÔNIO MENDES DA SILVA FILHO
Professor do DIN/UEM. Doutor em Ciência da Computação

domingo, 22 de maio de 2011

Resiliência no Trabalho – Uma questão de Atitude

De acordo com a pesquisa realizada pela ISMA-BR, 70% dos brasileiros sofrem as conseqüências do stress. Destes, 30% são vítimas da Síndrome de Burnout, um termo psicológico que descreve o estado de exaustão prolongada e diminuição de interesse, especialmente em relação ao trabalho. O termo burnout descreve principalmente a sensação de exaustão da pessoa acometida.

Estudos também mostram que algumas pessoas passam pelo mesmo processo de pressão e adversidade no ambiente de trabalho, mas não entram no estado de estresse ou burnout, suportando a pressão mantendo-se equilibradas, isto é, sem quebras emocionais. Estas pessoas são chamadas de resilientes, pois possuem atitudes diferenciadas em relação às adversidades no trabalho ou na vida pessoal.

Resiliência é uma palavra que vem latim RESILIO, que significa “voltar ao normal”. O conceito foi criado em 1807 pelo cientista inglês Thomas Young, que fazia estudos sobre a elasticidade dos materiais. Mais tarde, a resiliência foi incorporada pela física como a capacidade que certos materiais têm de acumular energia quando submetidos a um esforço e, cessado o esforço, retornar ao seu estado natural sem sofrer deformações permanentes. É o que acontece com uma vara no salto em altura: quando o atleta toma impulso para saltar, a vara se curva, acumula energia, projeta o atleta sobre o obstáculo e depois retorna ao seu estado normal.

Nas últimas décadas do século 20, o termo resiliência foi abraçado pela psicologia, para denominar a capacidade que certas pessoas têm de sofrer fortes pressões ou situações de grande estresse e não quebrar emocionalmente. Na verdade estas pessoas se fortalecem neste processo, “acumulando energia” para assim como a vara do salto em altura, projetar-se para resolver as adversidades que estão passando.

O iatista Lars Grael é um exemplo de uma pessoa resiliente. No auge da sua carreira repleta de conquistas, teve sua perna decepada pela hélice de um barco, em um trágico acidente em 1999. Anos depois voltou a competir e ganhar medalhas. “O erro das pessoas, em geral é se voltar para trás”, disse Grael certa vez. “Se eu fosse comparar minha vida anterior com a que levo hoje, com certeza teria entrado em depressão. Mas não adianta olharmos para trás. Temos que lidar com o aqui e agora. Poderia ter sido pior, e tenho a obrigação de me sentir no lucro”.

Ser resiliente é uma questão de atitude, isto é, entrar em ação para solução das pressões e adversidades cotidianas. O profissional resiliênte não permite entrar na sintonia do medo e da tristeza, sentimentos estes que paralisam a pessoa impossibilitando a retomada para a ação. Não permitem também experimentar a energia da raiva, pois a raiva descontrolada apenas busca culpados em relação ao que se passa. O profissional resiliente primeiramente questiona o que deve ser feito para solucionar este problema, investigando várias opções, utilizando a sua flexibilidade e criatividade para sair do momento adverso. Concluído este processo ele entra em ação, pois agora ele tem a tal da MOTIVAÇÃO, isto é, motivos (adquirido no processo de pesquisa) para entrar em ação e fazer o que tiver que ser feito para minimizar ou até mesmo sair da adversidade.

Ricardo Piovan - Palestrante e Coach Organizacional

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Michael Porter: “Estratégia é mais importante do que crescimento”

Michael Porter é uma unanimidade quando o assunto é estratégia. Segundo ele, o principal foco das organizações, atualmente, não deve ser o crescimento do faturamento – algo que muitas empresas insistem equivocadamente em priorizar-, mas a estratégia em si. “Ela é mais importante do que qualquer projeção de crescimento de mercado”, ressalta o economista, professor da Harvard Business School e "autoridade" no assunto.

Segundo o economista e professor da Harvard Business School, o principal foco de uma corporação deve ser a estratégia. Sobrepor o crescimento a ela é um erro que muitas organizações insistem em cometer

Por Wagner Belmonte

As empresas devem competir para ser únicas e não para tentar ser as melhores. A recomendação é de Michael Porter, especialista e autor de conceituados livros sobre estratégia. Ele diz que para alcançar esse objetivo é fundamental que as companhias deixem de lado aspirações usuais, como a de ser a número um, numa busca incessante (e às vezes nefasta por liderança) ou a de internacionalizar produtos, por exemplo. “Não estou dizendo que crescimento não é importante, porém, nem sempre altos níveis de crescimento significam lucros”, esclarece. Para ele, o RH de uma empresa é a essência da corporação, mas “é importante personalizar a política de recursos humanos e adequá-la à estratégia”. Por personalização, Porter quer dizer algo que o mercado sabe, mas raramente pratica: as políticas de gestão de pessoas devem ser pensadas caso a caso, customizadas de acordo com o perfil, a vocação, o planejamento e a estratégia das empresas. Para isso, o líder precisa ser um estrategista que saiba dividir com toda a corporação a estratégia. “Não é porque você simplesmente colocou uma estratégia no papel que deve achar que todos vão segui-la. É muito importante debatê-la, aperfeiçoá-la”, explica. “Os benefícios são maiores quando ela é amplamente divulgada por toda a organização”, complementa.

Responsabilidade – Porter escreve livros e artigos sobre um tema que, segundo ele, ganhará cada vez mais importância no mundo corporativo global: a responsabilidade social, algo que muitas organizações ainda vêem exclusivamente como oportunidade de marketing institucional, o que é um erro grave. O primeiro artigo dele sobre o assunto foi publicado em 1999 e o mais recente acabou eleito por críticos como o melhor de 2006. Em todas as suas pesquisas, Porter salienta que as organizações perdem dinheiro porque ainda não enxergam a responsabilidade corporativa como um ponto realmente estratégico na gestão delas. “É apenas uma questão de tempo para que elas parem de analisar essas duas áreas como setores desconexos”, prevê. “As empresas que terão sucesso no futuro farão essa síntese”, complementa, alertando, no entanto, que “as companhias não podem resolver todos os problemas da sociedade”. Segundo ele, a impressão que se tem é que há muito destaque para o “quanto” se gasta e pouco estudo sobre o “como” é gasto... “Não adianta ‘espalhar’ dinheiro por toda a parte para tentar ser socialmente responsável. É preciso que as ações sociais, assim como as corporativas, sigam a estratégia, estejam alinhadas”, explica. “Um banco deve ajudar a população de baixa renda a poupar, a financiar moradia, porque é disso que ele entende”, afirmou o especialista em recente entrevista. Para Porter, um caminho para as empresas é selecionar de maneira estratégica os seus investimentos em responsabilidade social e concentrá-los em projetos que tenham relação com o seu negócio.

Perfil - O americano Michael Porter é a maior referência mundial em estratégia. É autor de best-sellers internacionais na área, escreveu mais de 85 artigos que foram publicados nos principais jornais e revistas de todo o mundo e recebeu três vezes o McKinsey Award como o melhor artigo publicado na Harvard Business Review num ano. Porter lidera, na Harvard Business School, o programa para novos presidentes de empresas que tenham faturamento superior a US$ 1 bilhão e também o Institute for Strategy and Competitiveness. Formou-se em Engenharia Mecânica pela Princeton University e obteve o mestrado e o Ph.D. em Administração e Economia pela Harvard University. Em recente estudo mundial realizado pela consultoria Accenture, que gerou um ranking internacional dos principais consultores e pensadores do management mundial, Michael Porter foi classificado o mais influente.

Manager – Qual o papel do RH na estratégia?

Porter – O RH, na verdade, é a essência da empresa, já que esta não pode ser bem sucedida sem ele. O importante é personalizar a política de RH e adequá-la à estratégia. Não existe uma política que possa servir a todos os casos. Em algumas organizações, a política de remuneração pode ser composta por salários mais altos, bônus menores ou o contrário. Em alguns outros casos, você deve ter unidades de negócios que se adaptem a essa política genérica na empresa. O importante é destacar que não existe uma política única de RH que possa atender a todos os casos.

Manager – Na década de 80, o modelo que o senhor desenvolveu das cinco forças se tornou paradigma no estudo de estratégia. O senhor considera que esse paradigma já foi quebrado?

Porter – No último ano, fiz um trabalho mais dedicado a essa questão e escrevi um novo artigo... Conversei com muitas empresas, ouvi muitas críticas, mas, na essência, acredito que este modelo das cinco forças é atemporal. As tendências, as tecnologias, os produtos mudam, mas são essas cinco forças que impulsionam a concorrência. Nesse novo artigo, eu aperfeiçoei alguns dos pontos que mereciam uma atenção maior e tento esclarecer alguns mal entendidos que aconteceram. Já observei milhares de alunos utilizando esse modelo e cometendo equívocos. Na verdade é a essência que serve para análise das mudanças. Para citar um exemplo, escrevi um artigo em 2004 ou 2005 chamado “A estratégia na internet”. Quando a internet surgiu, todos afirmavam: “tudo mudou”, “existe uma nova economia” etc. Na verdade, a regra é a mesma, a tecnologia é que mudou. O artigo aponta formas de diferenciar o sucesso do fracasso. Tenta separar as tendências existentes e as verdadeiras necessidades das empresas. Essa teoria das cinco forças durou tanto tempo, não por conta dessas tendências, mas principalmente pelo fato de tratar dos fundamentos da base. Fiquei muito assustado quando comecei a reescrever o artigo, pois alguns desses conceitos eram considerados até “sagrados”. Nenhum outro artigo foi tão citado na imprensa e na literatura. Foi um trabalho muito divertido, pelo qual pude confirmar e reafirmar essas teorias e aperfeiçoar os pontos que mereciam mudanças.







Manager – Por que o líder precisa ser um estrategista?

Porter – O motivo principal pelo qual considero a estratégia a atividade primordial de qualquer líder é porque o trabalho, na verdade, é desenvolver uma vantagem competitiva e, na minha opinião, isso é sinônimo e vai ao encontro da estratégia. Depois, é fazer com que essa estratégia seja seguida por todos da organização. A estratégia é a ferramenta mais poderosa no sentido de se conseguir o alinhamento. Muitos líderes, infelizmente, se concentram apenas na melhoria operacional das suas organizações, na motivação dos funcionários, e acabam perdendo a noção do verdadeiro propósito de um líder, que é justamente cuidar da estratégia. Acabam falando muito com os mercados, perdem muito tempo cuidando de sua própria imagem pessoal e perdem o foco.

Manager – A responsabilidade social também precisa estar alinhada à estratégia?

Porter – O assunto é bastante amplo. Escrevi um artigo na Harvard Business Review chamado “Estratégia e responsabilidade social corporativa”. Acho que sempre que falo de rentabilidade das empresas, falo também da lucratividade num longo prazo. Não é um período de um ano ou dois anos, mas sim uma década e, às vezes, até duas décadas. Acho que a maneira de começar a pensar agora é associar essas duas coisas. Quando uma empresa adota uma linha, e tenta, por exemplo, economizar energia no seu processo de produção, ela está reduzindo o seu custo e ao mesmo tempo ajudando o meio ambiente. Essa é uma questão econômica ou social? Os exemplos são inúmeros. Eu acho que é apenas uma questão de tempo para que as empresas parem de analisar essas duas áreas como setores desconexos. As empresas que terão sucesso no futuro farão essa síntese. Há empresas grandes que fazem um trabalho muito bom nessa área social-corporativa.

Manager – O senhor falou da importância de comunicar a estratégia a todos os níveis dentro da empresa e fazer com que eles não só assimilem, mas coloquem em prática... Existe um descompasso entre o que se propõe a fazer e o que é realmente feito?

Porter – Eu acho que a comunicação começa de fato pelo presidente, com toda a direção da organização tendo, evidentemente, alinhamento com a estratégia. Não é porque você simplesmente colocou uma estratégia no papel que você deve achar que todos vão segui-la, vão estar de acordo com ela. É muito importante debatê-la, aperfeiçoá-la. Os grandes líderes têm o hábito de repetir a estratégia e de tentar destacar, nas reuniões, os aspectos que diferenciam uma empresa em relação às outras. Eles usam essas reuniões, uma espécie de reunião comunitária, para debater essa questão com todos os funcionários. A meu ver, a repetição é um aspecto fundamental: repetição em reuniões com vários grupos, heterogêneos, de funcionários... Outro aspecto, que gosto de chamar de simbolismo, é o exemplo que uma empresa pode usar para explicitar a sua estratégia.

Manager – Como assim?

Porter – Tem uma história muito conhecida da Fedex. Ela usa, nos Estados Unidos, algumas caixas de coleta, onde as pessoas depositam as suas encomendas e, uma vez ao dia, um caminhão passa e recolhe essas encomendas. Num determinado dia, um motorista perdeu a chave de uma dessas caixas. A cultura da empresa é entregar 100% das encomendas no prazo, e essa cultura é tão integrada que esse motorista não teve dúvida: ele colocou a caixa inteira no caminhão, tudo para valorizar a diretriz de pontualidade de coleta e entrega. Essa é uma história que a Fedex repete várias vezes para deixar clara que a estratégia está realmente integrada à estrutura da empresa. Um bom presidente usa histórias como essa para motivar...

Manager – Das nações que compõem o grupo de países emergentes – Brasil, Rússia, Índia e China (BRIC), qual aquela que o senhor acredita que esteja mais próxima dessa realidade estratégica?

Porter – O BRIC é um assunto muito amplo. São países bastante diferentes, e eu escrevi recentemente um artigo encomendado pelo governo russo sobre os problemas que eles enfrentam. Conheço relativamente bem a China, a Índia e também o Brasil. Todos têm diferenças muito grandes. Eu acho que a China é o país que tem a maior probabilidade de surpreender a todos, até porque o crescimento de fato ocorreu muito rápido, mas a rentabilidade é baixa e esse crescimento pode não se sustentar. Todo mundo afirma que a China vai dominar o mundo, mas eu acredito que a China, entre esses países, é aquele que tem maior possibilidade de enfrentar mais obstáculos. Não sei se esses obstáculos vêm de dentro do regime ou do próprio “cansaço” desse crescimento. A Índia tem uma situação mais caótica, mas ela tem uma grande vantagem: ela tem recursos humanos e muita criatividade. A meu ver, a Índia vai apresentar um crescimento mais lento, porém mais estável e consistente. A Rússia, atualmente, depende quase que exclusivamente dos recursos naturais, já que 40% das suas divisas advêm do petróleo. Na área política, há muita corrupção, muita ineficiência e a Rússia agora está numa encruzilhada. Ela é um país que luta para se ajustar à sua história. As disputas políticas que ela tem com os vizinhos podem, de fato, prejudicar o seu desenvolvimento. A Rússia olha muito para trás, para a época em que era uma potência, e quer receber o tratamento de superpotência. Eu acho que ela precisa superar o passado e olhar para o futuro. No Brasil, há bastante movimentação; o Brasil tem recursos naturais, tem agricultura, tem minérios e tem essa base para se desenvolver mais. O mais importante é que o Brasil tem desenvolvido outros setores que não dependem exclusivamente de recursos naturais como a aviação, por exemplo. Eu vejo uma grande capacidade empresarial no Brasil. Muitas empresas começam a abrir o seu capital, internacionalizando-se, mas o governo continua a ser o maior entrave devido à grande complexidade, à ineficiência, à burocracia e também por conta da grave corrupção.

domingo, 1 de maio de 2011

Será que você é um workholic?

Entenda quando a dedicação se torna excesso e você passa a ser um escravo do trabalho
Por Eber Freitas, artigo de maio de 2011



Você já assistiu ao filme Clube da Luta (Fight Club, 1999)? Se a resposta for afirmativa, então você conheceu um caso clássico de um workaholic: Tyler Durden é um funcionário de uma empresa de seguros, sem família, namorada ou vida social, que passa a maior parte do tempo em aviões, não dorme e procura preencher a falta de significado da vida com objetos de decoração. Uma bomba que, a certa altura, explode da pior maneira e de modo que cause os maiores estragos possíveis.

Apesar de ser um personagem de ficção, Tyler simboliza uma manifestação indesejada, um apêndice, um efeito colateral do estilo de vida capitalista. Essa manifestação corresponde aos viciados em trabalho, pessoas que procuram no emprego o que não encontram no campo afetivo, espiritual e social.

Workaholic

O termo foi citado pela primeira vez no começo da década de 70, pelo psicólogo americano Wayne Oates, no livro "Confessions of a Workaholic". A palavra é derivativa da junção work (trabalho) + alcoholic (alcoólatra). Segundo o professor e coordenador do Laboratório de Pesquisa do Trabalho da UNB, Wanderley Codo, foi a partir da vivência clínica de pessoas com características e sintomas semelhantes a viciados que foi elaborado o conceito.

Sintomas e diagnóstico

Não é difícil identificar um workaholic, mas apenas o fato de passar muitas horas além do necessário trabalhando, bem como nos fins de semana, não representa, por si só, um diagnóstico do vício. No entanto quando essas horas a mais são, na verdade, uma maneira de fugir da vida social, dos conflitos familiares, conjugais ou de outros aspectos cotidianos, é bom ficar alerta: você pode ter problemas maiores do que aparenta e, acredite, não vai querer conviver com eles.

Os sintomas físicos costumam ser bem semelhantes ao de Tyler. "Eu ficava extremamente cansado, só pensava em trabalhar, tinha dificuldades para dormir. Ficava doente constantemente, comecei a ter uma gastrite, que evoluiu para úlcera e depois um pequeno tumor no tubo digestivo", lembra Christian Barbosa, CEO da consultoria Triad e ex-workaholic.

Divulgação


Christian Barbosa, ex-workaholic que hoje é um dos maiores especialistas do Brasil
em gestão do tempo



Embora o mais indicado para a maioria dos viciados em trabalho seja uma ajuda médica, alguns profissionais conseguem encontrar a resposta quando reconhecem o próprio problema. No caso de Christian Barbosa, a melhor forma de lidar com o vício foi aprender a gerir o próprio tempo. Se deu certo? O fato de ele ter se tornado um dos maiores especialistas em gestão do tempo do Brasil dá por si só a resposta.

"Eu fui um workaholic dos piores tipos dos 16 aos 20 anos de idade. Procurei ajuda na gestão de tempo; comecei a me organizar melhor, priorizar outras coisas, adicionar tempo para mim mesmo na agenda. Foi um processo que demorou 4 meses para conseguir parar de trabalhar aos domingos e um total de 10 meses para ter mais vida", reconhece Christian.

Entretanto, Wanderley Codo garante que um auxílio especializado é essencial tanto para diagnosticar o vício quanto para tratá-lo. "Para detectar o vício é necessário um diagnóstico simples que deve ser feito por um profissional especializado, porque o que vai se estudar é o grau e tipo de relação que ele tem com o trabalho e com a vida. O paciente pode perfeitamente trabalhar muitas horas e ter uma relação perfeita com o trabalho e com os demais aspectos da vida", explica.

Worklovers

Se você gosta e já está acostumado a trabalhar 12 horas por dia, e até alguns fins de semana, não precisa ficar alarmado: você não é, necessariamente, um workaholic. As pesquisas coordenadas pelo professor Wanderley Codo identificaram outro tipo de profissional que, embora tenham essa característica de um viciado, não permitem que isso interfira nos demais aspectos da vida nem se utilizam do trabalho como um meio para figir dos problemas. Tais profissionais foram denominados worklovers, pessoas que amam o próprio trabalho e desenvolvem uma relação perfeitamente salutar com ele.

Divulgação


Carol Azevedo, worklover

Carol Azevedo, diretora de Criação da agência de publicidade Bloom, acredita que seu perfil se encaixa nessa categoria. Apesar de trabalhar, em média, 10 horas por dia entre dois escritórios da agência, ela afirma que é apaixonada pelo que faz e que isso é feito de forma equilibrada e sem pesar na sua vida social, pessoal e afetiva. "Eu me considero uma worklover de carteirinha! Sou apaixonada pelo que faço e procuro profissionais com a mesma característica para a minha equipe. É essa paixão que traz qualidade e a constante busca pelo aprimoramento. Gosto de criar, de estar envolvida com as pessoas, à frente de desafios e projetos", afirma a diretora.


Vício ou status?

Muita gente gosta do trabalho, sente prazer no que faz e passa algumas horinhas a mais no escritório, abrindo mão de fazer coisas mais interessantes, como sair com o parceiro, assistir um filme ou ler um livro, por exemplo. No entanto, criou-se uma balbúrdia, a partir dos anos 90, de que gostar de trabalhar seria um sintoma de vício, já que para muita gente trabalhar é um esforço necessário apenas para ganhar dinheiro, e não uma fonte de deleite.

Incorporando essa cultura, jovens profissionais se intitulam workaholics como uma forma de manter uma fama entre os colegas de um trabalhador esforçado, que abre mão de tudo para conseguir os resultados necessários. Porém há uma diferença abissal entre gostar de trabalhar e ser um viciado em trabalho, o que abrange sintomas físicos e psicossociais graves. Um workaholic busca, através do trabalho, criar um 'mundo particular' para escapar dos problemas reais, não um status quo.