Ao
portador deste: Agradeço se ler e repassar este às áreas de treinamentos/RH
das empresas do seu relacionamento.
Alkíndar
de Oliveira
MBA’S – UM BEM
OU UM MAL PARA AS EMPRESAS?
Alkíndar de
Oliveira
Ministrando treinamentos há quase três décadas para líderes
empresariais, esta vivência deixou claro para mim o quanto os MBA’s, são muito
mais criadores de egos exacerbados do que desenvolvedores de profissionais e de
empresas. Com um necessário adendo: isto ocorre quando eles não cumprem com
determinados procedimentos comentados neste texto, que é o que – infelizmente -
mais acontece. Por outro lado MBA’s também podem ser excelentes ferramentas se
cumprirem com alguns procedimentos a serem comentados.
Peter Senge, autor do excepcional livro A Quinta
Disciplina (Editora Best Seller), disse que “As Escolas de Negócios
fazem um grande mal às empresas”. Tal afirmação vinda de um dos maiores
mestres de teorias relativas à liderança e ao comportamento no mundo
corporativo, levou-me à algumas reflexões que motivaram a escrever este texto.
Sou da opinião de que MBAS bem escolhidos - e com bons professores - são muito
úteis, desde que seus formandos não retornem às empresas com o ego no comando.
O saber teórico/prático proporcionado em sala de aula jamais substitui o poder
da humildade e do diálogo franco e verdadeiro. Nenhuma teoria acadêmica
substitui a convivência saudável no local de trabalho. No entanto, muitos dos
MBAS em nosso país são mais fábricas de currículo e do ego exacerbado do que
escolas de aprendizagem. Esta minha opinião é conseqüência de alguns fatos e
pesquisas.
O primeiro deles: Na revista VejaSP (Ed. Abril), de 3 de
março/2010, o prof. Armando Dal Colletto, conselheiro da Associação Nacional de
MBA (ANAMBA) menciona que dos mais de 1000 cursos de MBAS que há no Brasil “apenas
100 podem ser considerados relevantes”. De forma inequívoca ele mencionou
que são “irrelevantes” aproximadamente 90% dos cursos de MBAS do país!!! Uma
informação impressionante – e triste – vinda de uma autoridade no assunto.
Outro fato: hoje as escolas de MBA mais renomadas das
capitais brasileiras, cujas siglas nos passam a imagem de alta qualidade
educativa (mas nem sempre a realidade correspondendo com esta impressão) tem
filiais em praticamente todas as cidades de porte médio do país. A essencial
pergunta é: será possível ter número de professores realmente capazes
para esta imensa demanda? Trabalhando no campo educacional e de treinamento
para líderes desde 1975, minha resposta categórica a esta pergunta, é “não”.
Henry
Mintzberg, guru canadense de Gestão, menciona que os MBAs promovem “o orgulho
arrogante, com conseqüências destruidoras”. Tenho visto in loco esta
realidade nas empresas. Vários dos executivos que participam de MBAS, quando os
terminam muitas vezes voltam à empresa sendo um “mar de ego”. Obviamente há
exceções. Com o propósito de melhor elucidar esta questão, repito parte do
comentário acima de Henry Mintzberg: “O que MBAS e outros programas promovem
(...) é orgulho arrogante, com conseqüências destruidoras. Alguns dos melhores
gestores e líderes nunca passaram um dia em sala dessas, enquanto vários entre
os piores sentaram-se lá obedientemente por dois anos.” Mas complementa
Henry Mintzberg: “O MBA convencional faz um bom trabalho ao ensinar as
funções de negócios, mas pouco para aprimorar a prática de gestão”.
Em
reportagem do Jornal O Estado de São Paulo de 14 de janeiro de 2010
(Caderno Negócios, pág. B13), a jornalista Renata Gama mostra e comenta
pesquisa realizada pela consultoria Korn Ferry International que aponta o
desperdício de recursos financeiros em cursos para seus profissionais em
Escolas Administrativas; escolas estas em que – por haver alunos de diferentes
empresas – não têm condição de focar a necessidade específica de cada uma das
empresas ali representadas. A pesquisa deixa claro que as aulas dariam
resultados se fossem focadas em experiências ocorridas no trabalho. Mas a
grande questão é: como focar as experiências no trabalho se cada empresa
representada na sala de aula dos MBA’s tem suas peculiaridades únicas?
A solução
para treinamentos altamente eficazes:
O local
correto de aprendizagem – no campo da Gestão - é aquele em que os todos os
alunos da sala de aula derivam de uma mesma empresa, com cursos que trabalhem
suas necessidades no ambiente adequado, não necessariamente na própria empresa,
mas, reforçando, em salas de aula onde todos os alunos sejam da mesma
empresa. Óbvio que quando você tem alunos de diferentes empresas o network
pode ser um ponto altamente positivo, só que quando se trata de curso de
gestão, a história é outra. É o que veremos no trecho da reportagem citada que
reforça a importância de cursos e treinamentos aproveitando as experiências da
própria empresa. Um detalhe: para melhor compreender o texto a seguir, a
expressão “sala de aula” refere-se “à sala de aula em Escola Administrativa com
alunos de empresas diversas”.
Diz a
pesquisa: “O treinamento clássico dentro da sala de aula ainda é o
modelo de desenvolvimento de líderes que prevalece nas grandes empresas
brasileiras. Segundo diagnóstico da consultoria Korn Ferry International, 70%
dos recursos para treinar executivos vão para cursos, 20% para treinamento com
profissionais especializados ou com um mentor para motivação pessoal, e 10%
para experiências dentro da própria empresa. No entanto, na análise da
consultoria, essa é uma distribuição pouco eficiente. ‘As evidências mostram
que teria mais impacto se a empresa invertesse a pirâmide, alocando somente 10%
em cursos e 70% em experiências no trabalho’, defende Sérgio Aveach, presidente
da Korn Ferry. Isto porque, na opinião dele, para desenvolver certas
competências, a prática é melhor que a teoria. ‘Não estamos defendendo que não
se façam cursos. Mas quem acha que em um mês numa escola de administração vai
aprender sobre o que faz uma empresa ganhar ou perder dinheiro está muito
enganado’, diz Averbach. ‘Existem ações específicas que o indivíduo pode fazer
no trabalho para conhecer o negócio que demoram mais, mas funcionam melhor’
(...).”
Não dá para
ensinar gestão na escola:
Indo na
mesma direção da pesquisa apresentada, o depoimento do guru canadense em
gestão, Henry Mintzberg, presente na edição de fevereiro/10 da revista Época
Negócios (Editora Globo), trouxe um trabalho admirável relativo ao dia a dia de
gerentes e gestores de empresas. Esta reportagem foi baseada em trabalho feito
por Henry Mintzberg que consta em seu livro Managing – Desvendando o dia a
dia da gestão (Bookman). Para escrever o livro Mintzberg conviveu com 29
gerentes, gestores e presidentes, com o propósito de extrair deste estudo teses
adequadas relativas à forma eficaz de gerenciar/liderar.
Transcrevo a
seguir – agora de forma completa - uma das conclusões da pesquisa. Leiamo-la:
“Os melhores
gestores não nascem numa sala de MBA, porque não dá para ensinar gestão na
escola. Alguns de nós na McGill University, em Montreal, temos sérias reservas
sobre programas de MBA. O MBA convencional faz um bom trabalho ao ensinar as
funções de negócios, mas pouco para aprimorar a prática de gestão. Mais do que
isso, confia no aprendizado a partir das experiências de terceiros, seja mais
diretamente, pela discussão de casos ou, menos, na apresentação de teorias. Se
gestão é prática, não dá para ensiná-la como uma ciência ou uma profissão. Na
verdade, não dá para ensiná-la e pronto. O que MBAs e outros programas que
dizem fazer isso promovem é orgulho arrogante, com consequências destruidoras.
Alguns dos melhores gestores e líderes nunca passaram um dia em sala dessas,
enquanto vários entre os piores sentaram-se lá obedientemente por dois anos.
Ninguém chega a praticar cirurgias ou contabilidade sem treinamento prévio em
uma sala de aula. Em gestão, tem de ser o contrário. O trabalho tem nuances demais,
é intricado e dinâmico demais para ser aprendido antes de ser praticado. Então,
o ponto de partida lógico é garantir que os gestores tenham a melhor
experiência possível. O desenvolvimento gerencial tem de ser uma questão de
compromisso: com o trabalho, as pessoas e o propósito, mas também com a
organização e as comunidades.” Henry Mintzberg
Sociabilidade,
o pilar de ferro da educação eficaz:
As empresas estão investindo altas somas em treinamentos
para a liderança em MBAs e outros Cursos externos, numa proporção como nunca o
fizeram, e os resultados – passada a euforia inicial – muitas vezes são
insatisfatórios. Mas qual é a solução para que os treinamentos para líderes
sejam realmente eficazes? Minha experiência treinando líderes de empresas de
todos os portes, ensinou-me que, para que um treinamento para líderes seja de
fato produtivo e gerador de profundas mudanças comportamentais, ele precisa
abranger além de considerações relativas ao conhecimento,
intelectualidade, também as vertentes psicológicas e fundamentalmente
(sendo o pilar de ferro da aprendizagem), a sociabilidade. Com um
importante detalhe, se determinado líder de uma empresa participar de um
treinamento externo e sociabilizar-se com seus colegas de classe oriundos de
outras empresas (o que é comum ocorrer), haverá um fundamental contraponto: o
saldo será próximo de zero para a empresa que ali o colocou. Não basta o
desenvolvimento na parte intelectiva e psicológica, para o mundo corporativo o exercício da sociabilidade entre pares de uma mesma
empresa, é a condição primordial para que o treinamento tenha resultado eficaz. Pois a sociabilidade se
utiliza do mais importante instrumento para o desenvolvimento da primordial “visão
sistêmica” no mundo corporativo: o diálogo, que se bem aplicado, transforma
grupos em equipes.
Concluindo, MBA’s só são eficazes no Mundo Corporativo se
satisfizerem duas condições (além da didática eficaz e do profundo conhecimento
do ministrante): primeiramente que o ministrante saiba dominar o seu ego, pois
ministrante que navega no mar do ego é um péssimo professor e, como segunda
condição, que os alunos sejam todos oriundos de uma mesma empresa. Satisfeitas
estas condições, os MBA’s serão importantes ferramentas para o desenvolvimento
da liderança no mundo corporativo.