segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

MBAs - Um bem ou um mal???










Ao portador deste: Agradeço se ler e repassar este às áreas de treinamentos/RH  das empresas do seu relacionamento.

Alkíndar de Oliveira



MBA’S – UM BEM OU UM MAL PARA AS EMPRESAS?

Alkíndar de Oliveira



Ministrando treinamentos há quase três décadas para líderes empresariais, esta vivência deixou claro para mim o quanto os MBA’s, são muito mais criadores de egos exacerbados do que desenvolvedores de profissionais e de empresas. Com um necessário adendo: isto ocorre quando eles não cumprem com determinados procedimentos comentados neste texto, que é o que – infelizmente - mais acontece. Por outro lado MBA’s também podem ser excelentes ferramentas se cumprirem com alguns  procedimentos a serem comentados.



Peter Senge, autor do excepcional livro A Quinta Disciplina (Editora Best Seller), disse que “As Escolas de Negócios fazem um grande mal às empresas”. Tal afirmação vinda de um dos maiores mestres de teorias relativas à liderança e ao comportamento no mundo corporativo, levou-me à algumas reflexões que motivaram a escrever este texto. Sou da opinião de que MBAS bem escolhidos - e com bons professores - são muito úteis, desde que seus formandos não retornem às empresas com o ego no comando. O saber teórico/prático proporcionado em sala de aula jamais substitui o poder da humildade e do diálogo franco e verdadeiro. Nenhuma teoria acadêmica substitui a convivência saudável no local de trabalho. No entanto, muitos dos MBAS em nosso país são mais fábricas de currículo e do ego exacerbado do que escolas de aprendizagem. Esta minha opinião é conseqüência de alguns fatos e pesquisas.

O primeiro deles: Na revista VejaSP (Ed. Abril), de 3 de março/2010, o prof. Armando Dal Colletto, conselheiro da Associação Nacional de MBA (ANAMBA) menciona que dos mais de 1000 cursos de MBAS que há no Brasil “apenas 100 podem ser considerados relevantes”. De forma inequívoca ele mencionou que são “irrelevantes” aproximadamente 90% dos cursos de MBAS do país!!! Uma informação impressionante – e triste – vinda de uma autoridade no assunto.



Outro fato: hoje as escolas de MBA mais renomadas das capitais brasileiras, cujas siglas nos passam a imagem de alta qualidade educativa (mas nem sempre a realidade correspondendo com esta impressão) tem filiais em praticamente todas as cidades de porte médio do país. A essencial pergunta é: será possível ter número de professores realmente capazes para esta imensa demanda? Trabalhando no campo educacional e de treinamento para líderes desde 1975, minha resposta categórica a esta pergunta, é “não”.



Henry Mintzberg, guru canadense de Gestão, menciona que os MBAs promovem “o orgulho arrogante, com conseqüências destruidoras”. Tenho visto in loco esta realidade nas empresas. Vários dos executivos que participam de MBAS, quando os terminam muitas vezes voltam à empresa sendo um “mar de ego”. Obviamente há exceções. Com o propósito de melhor elucidar esta questão, repito parte do comentário acima de Henry Mintzberg: “O que MBAS e outros programas promovem (...) é orgulho arrogante, com conseqüências destruidoras. Alguns dos melhores gestores e líderes nunca passaram um dia em sala dessas, enquanto vários entre os piores sentaram-se lá obedientemente por dois anos.” Mas complementa Henry Mintzberg: “O MBA convencional faz um bom trabalho ao ensinar as funções de negócios, mas pouco para aprimorar a prática de gestão”.



Em reportagem do Jornal O Estado de São Paulo de 14 de janeiro de 2010 (Caderno Negócios, pág. B13), a jornalista Renata Gama mostra e comenta pesquisa realizada pela consultoria Korn Ferry International que aponta o desperdício de recursos financeiros em cursos para seus profissionais em Escolas Administrativas; escolas estas em que – por haver alunos de diferentes empresas – não têm condição de focar a necessidade específica de cada uma das empresas ali representadas. A pesquisa deixa claro que as aulas dariam resultados se fossem focadas em experiências ocorridas no trabalho. Mas a grande questão é: como focar as experiências no trabalho se cada empresa representada na sala de aula dos MBA’s tem suas peculiaridades únicas?



A solução para treinamentos altamente eficazes:

O local correto de aprendizagem – no campo da Gestão - é aquele em que os todos os alunos da sala de aula derivam de uma mesma empresa, com cursos que trabalhem suas necessidades no ambiente adequado, não necessariamente na própria empresa, mas, reforçando, em salas de aula onde todos os alunos sejam da mesma empresa.  Óbvio que quando você tem alunos de diferentes empresas o network pode ser um ponto altamente positivo, só que quando se trata de curso de gestão, a história é outra. É o que veremos no trecho da reportagem citada que reforça a importância de cursos e treinamentos aproveitando as experiências da própria empresa. Um detalhe: para melhor compreender o texto a seguir, a expressão “sala de aula” refere-se “à sala de aula em Escola Administrativa com alunos de empresas diversas”.

Diz a pesquisa: “O treinamento clássico dentro da sala de aula ainda é o modelo de desenvolvimento de líderes que prevalece nas grandes empresas brasileiras. Segundo diagnóstico da consultoria Korn Ferry International, 70% dos recursos para treinar executivos vão para cursos, 20% para treinamento com profissionais especializados ou com um mentor para motivação pessoal, e 10% para experiências dentro da própria empresa. No entanto, na análise da consultoria, essa é uma distribuição pouco eficiente. ‘As evidências mostram que teria mais impacto se a empresa invertesse a pirâmide, alocando somente 10% em cursos e 70% em experiências no trabalho’, defende Sérgio Aveach, presidente da Korn Ferry. Isto porque, na opinião dele, para desenvolver certas competências, a prática é melhor que a teoria. ‘Não estamos defendendo que não se façam cursos. Mas quem acha que em um mês numa escola de administração vai aprender sobre o que faz uma empresa ganhar ou perder dinheiro está muito enganado’, diz Averbach. ‘Existem ações específicas que o indivíduo pode fazer no trabalho para conhecer o negócio que demoram mais, mas funcionam melhor’ (...).”



Não dá para ensinar gestão na escola:

Indo na mesma direção da pesquisa apresentada, o depoimento do guru canadense em gestão, Henry Mintzberg, presente na edição de fevereiro/10 da revista Época Negócios (Editora Globo), trouxe um trabalho admirável relativo ao dia a dia de gerentes e gestores de empresas. Esta reportagem foi baseada em trabalho feito por Henry Mintzberg que consta em seu livro Managing – Desvendando o dia a dia da gestão (Bookman). Para escrever o livro Mintzberg conviveu com 29 gerentes, gestores e presidentes, com o propósito de extrair deste estudo teses adequadas relativas à forma eficaz de gerenciar/liderar.

Transcrevo a seguir – agora de forma completa - uma das conclusões da pesquisa. Leiamo-la:

“Os melhores gestores não nascem numa sala de MBA, porque não dá para ensinar gestão na escola. Alguns de nós na McGill University, em Montreal, temos sérias reservas sobre programas de MBA. O MBA convencional faz um bom trabalho ao ensinar as funções de negócios, mas pouco para aprimorar a prática de gestão. Mais do que isso, confia no aprendizado a partir das experiências de terceiros, seja mais diretamente, pela discussão de casos ou, menos, na apresentação de teorias. Se gestão é prática, não dá para ensiná-la como uma ciência ou uma profissão. Na verdade, não dá para ensiná-la e pronto. O que MBAs e outros programas que dizem fazer isso promovem é orgulho arrogante, com consequências destruidoras. Alguns dos melhores gestores e líderes nunca passaram um dia em sala dessas, enquanto vários entre os piores sentaram-se lá obedientemente por dois anos. Ninguém chega a praticar cirurgias ou contabilidade sem treinamento prévio em uma sala de aula. Em gestão, tem de ser o contrário. O trabalho tem nuances demais, é intricado e dinâmico demais para ser aprendido antes de ser praticado. Então, o ponto de partida lógico é garantir que os gestores tenham a melhor experiência possível. O desenvolvimento gerencial tem de ser uma questão de compromisso: com o trabalho, as pessoas e o propósito, mas também com a organização e as comunidades.” Henry Mintzberg



Sociabilidade, o pilar de ferro da educação eficaz:

As empresas estão investindo altas somas em treinamentos para a liderança em MBAs e outros Cursos externos, numa proporção como nunca o fizeram, e os resultados – passada a euforia inicial – muitas vezes são insatisfatórios. Mas qual é a solução para que os treinamentos para líderes sejam realmente eficazes? Minha experiência treinando líderes de empresas de todos os portes, ensinou-me que, para que um treinamento para líderes seja de fato produtivo e gerador de profundas mudanças comportamentais, ele precisa abranger além de considerações  relativas ao conhecimento, intelectualidade, também as vertentes psicológicas e fundamentalmente (sendo o pilar de ferro da aprendizagem), a sociabilidade.  Com um importante detalhe, se determinado líder de uma empresa participar de um treinamento externo e sociabilizar-se com seus colegas de classe oriundos de outras empresas (o que é comum ocorrer), haverá um fundamental contraponto: o saldo será próximo de zero para a empresa que ali o colocou. Não basta o desenvolvimento na parte intelectiva e psicológica, para o mundo corporativo o exercício da sociabilidade entre pares de uma mesma empresa, é a condição primordial para que o treinamento tenha resultado eficaz.  Pois a sociabilidade se utiliza do mais importante instrumento para o desenvolvimento da primordial “visão sistêmica” no mundo corporativo: o diálogo, que se bem aplicado, transforma grupos em equipes.

Concluindo, MBA’s só são eficazes no Mundo Corporativo se satisfizerem duas condições (além da didática eficaz e do profundo conhecimento do ministrante): primeiramente que o ministrante saiba dominar o seu ego, pois ministrante que navega no mar do ego é um péssimo professor e, como segunda condição, que os alunos sejam todos oriundos de uma mesma empresa. Satisfeitas estas condições, os MBA’s serão importantes ferramentas para o desenvolvimento da liderança no mundo corporativo.