Preparar a futura liderança em RH pressupõe,
sobretudo, colocar a área mais próxima do CEO e do negócio
Natalia Gómez
Dentre os muitos desafios que batem à porta das
empresas nos dias de hoje, alguns já são bem conhecidos. A guerra por talentos,
por exemplo, não é uma novidade por aqui - apenas teve sua força ampliada
graças às, entre outras questões, boas perspectivas da economia brasileira.
Outra questão que já povoa as discussões em RH é a formação de lideranças. E
tanto neste item quanto no primeiro, as demandas sobre a área de recursos
humanos crescem, bem como os holofotes sobre seus profissionais. Estão eles
aptos a dar conta do recado? Mas há uma outra questão a ser feita quando o
assunto são líderes futuros: até que ponto as empresas estão destinando tempo,
dinheiro (por que não?) e atenção no preparo da próxima liderança de RH?
Se não há como negar que dentro dos programas de
desenvolvimento de lideranças a área de recursos humanos está inserida (ou ao
menos deveria), ajudando a mapear possíveis participantes, não se pode deixar
de lado que ela também deve ser um dos participantes. É o que defende Karin
Parodi, diretora executiva da Career Center. "O RH precisa dar um
salto", frisa a consultora. Isso significa garantir a formação de sua nova
geração. E o que um programa de formação de liderança pode apresentar para
ajudar o profissional dessa área em dar esse salto e se tornar um líder de RH?
Uma resposta comum ouvida por MELHOR foi: colocar esse profissional em contato
com o negócio. E assim como alguns velhos problemas que aparecem como novos,
essa sugestão não soa estranha, nos remete ao business partner, mas ainda está
longe, em muitas empresas, de ser uma realidade.
Compreender o negócio da companhia é a única forma
de garantir que os profissionais de RH terão sucesso na liderança e na gestão
de pessoas. É preciso entender o que sentem, vivem e pensam os funcionários que
estão à frente do negócio. Também é fundamental estar por dentro dos desafios e
mudanças que a empresa vive a cada momento. Essa visão do negócio permite que a
liderança de recursos humanos antecipe crises e entenda a real necessidade dos
demais profissionais da companhia.
Saber mais das outras áreas
Em busca desses benefícios, as novas gerações de líderes de RH têm sido treinadas para ir além das fronteiras do seu departamento. Em grandes empresas, é comum a inserção dos profissionais em diferentes áreas do negócio, para que conheçam quais são as reais demandas
da corporação e atuem de forma transformadora. Na americana Hewlett-Packard (HP), a liderança de recursos humanos acredita que é preciso se colocar no lugar dos "donos do negócio" antes de tomar decisões sobre programas, gestão, atração e remuneração de pessoas. Por donos do negócio entenda-se todos aqueles que estão à frente da operação.
Em busca desses benefícios, as novas gerações de líderes de RH têm sido treinadas para ir além das fronteiras do seu departamento. Em grandes empresas, é comum a inserção dos profissionais em diferentes áreas do negócio, para que conheçam quais são as reais demandas
da corporação e atuem de forma transformadora. Na americana Hewlett-Packard (HP), a liderança de recursos humanos acredita que é preciso se colocar no lugar dos "donos do negócio" antes de tomar decisões sobre programas, gestão, atração e remuneração de pessoas. Por donos do negócio entenda-se todos aqueles que estão à frente da operação.
O vice-presidente da área da HP no Brasil, Antônio
Salvador, conta que essa é uma tendência de mercado. "Os CEOs querem ao
seu lado diretores e vice-presidentes de RH que entendam do negócio e quais são
as transformações que vêm por aí", afirma. Salvador explica que é
importante viver as dores e desafios dos diretores, gerentes e analistas da
empresa para saber o que incentiva esses profissionais. "A equipe deve
visitar clientes e participar da discussão dos negócios", afirma. Por essa
razão, a HP contrata não apenas profissionais formados em recursos humanos. A
companhia também procura pessoas que nunca trabalharam na área, mas têm
experiência no segmento de atuação da HP. Para aqueles que não têm experiência
no mercado, a companhia garante esse desenvolvimento ao expor os profissionais
a diferentes áreas da empresa. Segundo o executivo, os gerentes coordenam uma
área dentro do RH e também tocam projetos de melhoria aplicados em nível
nacional, onde atuam como consultores. Um exemplo é uma gerente da área de impressoras,
que está à frente de um projeto de motivação dos funcionários juniores em toda
a operação brasileira.
Salvador conta que o modelo de projetos tem ganhado
força na empresa porque agrega valor ao negócio. "Cuidar apenas da
operação do dia a dia é o mínimo que o RH deve fazer. Os projetos permitem
contribuições maiores ao negócio", explica, lembrando que ele também
participa desse modelo, e atualmente coordena a estratégia global de redes
sociais da empresa.
Os profissionais são preparados pela HP para atuar
nessas frentes por meio de treinamento para gestão de projeto e para
conhecimento das ferramentas existentes. Existem cursos on-line nos quais o
profissional participa de sessões virtuais com professores. A HP também oferece
um dia batizado de Career Day, em outubro, quando se debatem as possibilidades
da carreira de RH. O plano de desenvolvimento de cada profissional é
estabelecido individualmente, de acordo com as necessidades e a experiência de
cada um.
O gerente de RH da HP, Cláudio Dantas, conta que já
passou por várias áreas desde que entrou na companhia, há 17 anos. Especialista
em treinamento e desenvolvimento, ele já trabalhou como consultor nos setores
de outsourcing, consumo, logística e distribuição e desenvolvimento de
softwares. "É como mudar de empresa sem mudar de emprego. Conheci
diferentes negócios e tive oportunidade de interagir com pessoas diferentes e
muitas faces da companhia", afirma. Em alguns cargos, ele conciliou a
consultoria com a atividade de treinamento e desenvolvimento.
Na visão do gerente, a chance de acerto aumenta
quanto se está próximo da operação. "A capacidade de execução aumenta
muito e o feedback recebido do cliente também melhora", diz. Segundo ele,
o problema mais comum na atividade dos profissionais de RH não é saber quais
medidas tomar, mas sim a falta de comunicação com as equipes. "O RH fica
sabendo das demandas de forma tardia e não consegue antecipar crises",
explica. Por isso, ele acredita que é importante o profissional aplicar sua
base conceitual na prática e colher os resultados no dia a dia do negócio.
Aproximação com o CEO
A empresa curitibana Neodent, líder brasileira no ramo de implantes dentários, também preza a aproximação do RH com a operação da companhia. A gerente de talentos humanos, Gislene Morais, conta que os novos profissionais de recursos humanos participam de um programa de integração em que conhecem os diferentes setores da Neodent, e depois continuam em contato permanente com os outros departamentos. "O contato deve ser constante, ainda mais porque no nosso ramo as tecnologias avançam rapidamente", explica.
A empresa curitibana Neodent, líder brasileira no ramo de implantes dentários, também preza a aproximação do RH com a operação da companhia. A gerente de talentos humanos, Gislene Morais, conta que os novos profissionais de recursos humanos participam de um programa de integração em que conhecem os diferentes setores da Neodent, e depois continuam em contato permanente com os outros departamentos. "O contato deve ser constante, ainda mais porque no nosso ramo as tecnologias avançam rapidamente", explica.
Segundo a executiva, a liderança de RH da companhia
trabalha com as outras gerências, diretorias, e com o presidente na definição
dos rumos da operação. "Hoje, o profissional deve estar junto com o
presidente, participando de tudo que acontece", diz. Com esse conhecimento
em mãos, os líderes de RH orientam os supervisores e assistentes que conduzem a
parte operacional dos recursos humanos nas áreas de fábrica, do prédio
administrativo, nas filiais e na área de segurança do trabalho.