terça-feira, 22 de novembro de 2011

“Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem” (por Stephen Kanitz )


Todo mundo é inseguro, sem exceção. Os superconfiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho. Afinal, ninguém é de ferro. Paulo Autran treme nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça já tenha sido encenada 500 vezes. Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator relaxa e parte tranquilo para o resto do espetáculo.
Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada artigo que escrevo e corro desesperado para ver os primeiros e-mails que chegam.

Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva. Mas como reduzir essa insegurança? Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Ledo engano, por uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora de nosso controle. Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera.

Segurança depende de um processo que chamo de "validação", embora para os estatísticos o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe que ela é real, verdadeira, que ela tem valor. Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja... O autoconhecimento tão decantado por filósofos, não resolve o problema. Ninguém pode auto validar-se, por definição. Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém.

Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: "Você tem significado para mim". Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: "Gosto de você pelo que você é". Quem cunhou a frase "Por trás de um grande homem existe uma grande mulher" (e vice-versa) provavelmente estava pensando esse poder de validação que só uma companheira ou companheiro amoroso(a) e presente no dia-a-dia poderá dar.

Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a própria insegurança que não temos tempo para sair validando os outros. Estamos tão preocupados em mostrar que somos o "máximo" que nos esquecemos de dizer a nossos amigos, filhos e cônjuges que o "máximo" são eles. Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemo-nos de validar aqueles que admiramos.

 Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser. Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se ou dominar os outros em busca de poder.

Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos. Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um "valeu, cara, valeu".


Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja em tomar esta atitude!



Stephen Kanitz é administrador

Um comentário:

  1. Complementado... Peter Senge em seu livro A Quinta disciplina - Caderno de campo faz referencia a esta existência pelo espirito Umbutu = é uma antiga palavra africana que significa algo como "Humanidade para os outros" ou ainda "Sou o que sou pelo que nós somos".
    "Uma pessoa com Ubuntu está aberta e disponível aos outros, assegurada pelos outros, não sente intimidada que os outros sejam capazes e bons, para ele ou ela ter própria auto-confiança que vem do conhecimento que ele ou ela tem o seu próprio lugar no grande todo." -- Arcebispo Desmond Tutu em Nenhum Futuro Sem Perdão

    Entre as tribos do norte de Natal, na África do Sul, a saudação mais comum, equivalente ao nosso popular “olá”, é a expressão sawa bona. Literalmente significa, “Te vejo”. Sendo um membro da tribo, você poderia responder dizendo sikhona, “Estou aqui”. A ordem da troca é importante: até você me ver, eu não existo. É como se, ao me ver, você me fizesse existir.

    Esse significado, implícito na língua, faz parte do espírito de ubuntu, uma disposição de espírito que prevalece entre os nativos da África abaixo do Saara. A palavra ubuntu provém do ditado popular Umuntu ngumuntu nagabantu, que, do zulu traduz-se literalmente como: “ uma pessoa é uma pessoa por causa de outras pessoas”. Se você cresce com essa perspectiva, sua identidade baseia-se no fato de que você é visto – que as pessoas em sua volta lhe respeitam e reconhecem como uma pessoa.

    Durante os últimos anos na África do Sul, muitas empresas começaram a empregar gerentes que foram criados nas regiões tribais. A ética ubuntu muitas vezes se choca sutilmente com a cultura dessas empresas. Num escritório, por exemplo, é perfeitamente normal passar por alguém no saguão e, enquanto distraído, não cumprimentá-lo. Sob a ética ubuntu, isso seria pior do que um sinal de desrespeito; indicaria que você achava que essa pessoa não existia. Não muito tempoo atrás, um consultor interno ficou visivelmente contrariado após uma reunião onde nada demais pareceu acontecer. Quando um projeto no qual ele havia tido um papel importante foi submetido à discussão, sua participação não foi mencionada ou reconhecida. Perguntado mais tarde porque isso o aborrecia tanto, ele respondeu: “Você não entende. Quando eles falaram acerca do projeto, eles não disseram meu nome. Eles não me tornaram uma pessoa.”
    Portanto, dentro do espírito ubuntu, gostaríamos de expressar um reconhecimento formal e dar-lhes as boas vindas às atividades ora iniciadas.

    Eu vejo você. Nós vemos vocês. Estamos contentes por vocês estarem aqui!
    Abraço
    Ivana Hilgert

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