O profissional multifuncional
por Valdessara Bertolino*
por Valdessara Bertolino*
A competitividade e a instabilidade
nas organizações obrigam o profissional deste novo milênio a atuar
multifuncionalmente.
O sonho de qualquer aluno
universitário, até bem pouco tempo atrás, era concluir os estudos,
especializar-se em sua área de formação e gozar dos prazeres de possuir um
"diploma". Estes sonhos, no entanto, têm sido alterados pela
necessidade da sobrevivência.
Com a estagnação do mercado em
várias áreas, ficou impossível absorver toda mão-de-obra ofertada. E, para não serem
atropelados pelo "tempo", muitos brasileiros tiveram de desenvolver
outras atividades, acrescidas às suas competências técnicas específicas,
apreendidas na graduação.
Alguns fugiram totalmente do sonho
inicial.
Segundo
dados recentes do Ministério do Trabalho, de cada 10 brasileiros com curso
superior, sete exercem atividades diferentes das quais estudaram. Trata-se de uma nova tendência no
mercado profissional, ligada aos avanços tecnológicos e à própria globalização.
Formar-se em curso superior não
significa encerrar a carreira e estagnar. Precisamos repensar, pois nem todos
os indivíduos estão preparados para acompanhar essas transformações e mudanças
que o mundo do trabalho está exigindo.
O
ambiente de trabalho, hoje, é extremamente competitivo e seletivo, fazendo com que o crescimento e os
resultados de uma organização sejam obtidos à custa das competências pessoais,
e não só de habilidades técnicas.
A
sociedade requer profissionais "cidadãos", envolvidos com o todo e
preocupados com resultados satisfatórios à comunidade global. O perfil do
profissional do século 21 mudou e irá mudar muito mais, para acompanhar as
exigências do mercado globalizado. Este é um processo muito dinâmico. Portanto,
as oportunidades são diferentes e certamente direcionarão os rumos das novas
formas de trabalho.
Além dos requisitos de polivalência
e da multifuncionalidade, o indivíduo necessita ter flexibilidade, saber
trabalhar em equipe, ser criativo e estar predisposto a aceitar mudanças e
desafios constantes.
Este é um processo de formação e de
aprendizado contínuo, onde é necessária a conscientização de que os valores são
outros, exigindo, consequentemente, que se eliminem preconceitos e quebrem
paradigmas, para enxergar as oportunidades e aumentar a visão do futuro.
A história nos revela momentos de
mudança e quebra de absolutismos. A Revolução Industrial, por exemplo, que
substituiu a força braçal pela máquina a vapor, possibilitou a entrada de
mulheres nas fábricas, criando um novo cenário. O mesmo ocorreu com a revolução
da informática, na qual a tecnologia digital empurrou as pessoas para a
polivalência, sendo necessário e urgente aprender inglês e dominar, pelo menos,
o "pacote Office". Com isso, surgiram novos espaços de trabalho
ligados ao mercado da informação e empregos virtuais.
Logo, vemos que as profissões acompanham o processo histórico, ou seja,
as grandes revoluções tecnológicas e científicas que marcam nossa época. Na há
mais espaço para o profissional que pensa e age em "caixinhas",
que se atém somente à sua especialidade.
Hoje,
o profissional deve ser multifuncional, ter visão macro e agir integradamente. A multifuncionalidade não só é uma
vantagem, mas uma meta que as empresas têm perseguido. E que até procuram incutir
este perfil em seus funcionários. Ela é uma exigência do mercado de trabalho,
considerando que o profissional deva ter muito mais do que só o desenvolvimento
de tarefas e funções pertinentes ao cargo, mas, principalmente, a capacidade de
apreender novos conhecimentos e estar preparado para oferecer soluções aos
diversos problemas enfrentados pela organização.
O
ser empregável deve expressar engajamento pessoal, demonstrando
responsabilidade, lealdade e capacidade de tomar decisões, construindo o seu
conhecimento. A
história nos revela que Taylor e Ford nada mais fizeram do que dar vida a um
princípio da economia clássica inglesa, em que Smith dizia que a especialização
era um benefício para o desenvolvimento econômico. E exemplificou, com o
célebre caso dos alfinetes.
Contudo, a forma de organização fixa
fordista passou a enfrentar várias crises, devido às mudanças econômicas
mundiais. Mas, é com o que se chamou de pós-industrialismo e, mais
genericamente, o pós-modernismo, que se viu o modelo de especialização com
sérios abalos. Os japoneses foram os pioneiros na instituição de uma forma de
organização de produção - "toyotismo" - que substituiu a rigidez da
linha de montagem pela flexibilização das linhas de produção.
Os operários passaram a ser
especialistas em generalidades. Eles, além de se auto organizarem no espaço da
fábrica, ainda detêm conhecimento sobre o processo inteiro de produção da
mercadoria, pois as funções são permutáveis. Assim, já não existe o
especialista em "apertar parafusos", mas o funcionário que constrói
carros.
Com tudo isso, vemos que a
polivalência e a multifuncionalidade são traços que as transformações das
sociedades “transformaram” em exigência para a organização da vida social. Nada
garante, contudo, a imutabilidade deste processo.
* Valdessara Bertolino é
Doutoranda em Ciências Sociais, Mestre em Educação, Pós-Graduada em Tecnologia
Educacional, Graduada em Direito e Secretariado, Professora e Coordenadora
Universitária da Uninove (Centro Universitário Nove de Julho).
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