sexta-feira, 20 de janeiro de 2012


DESABAFO DE UMA FILHA DA GERAÇÃO Y


Hoje pela manhã me vi discutindo comigo mesma sobre o maior desafio atual do mercado de trabalho. Muitos sites e blogs já explicaram e, até hoje, explicam quem e como pensam as mais diferentes gerações, mas – nunca vi ou li – debaterem sobre o desgaste visto no mercado profissional por causa desse embate de gerações.

Minha intenção não é explicar as gerações e nem como elas pensam… Muitos já fizeram isso e com muito mais propriedade do que seria capaz. A intenção aqui é pensar de maneira prática os problemas ocasionados profissionalmente por essas mudanças tão rápidas de gerações.

Na época da minha avó não existiam computadores. Na época dos meus pais o máximo que lidavam com computadores eram os mainframes e sua relações com as intranets das empresas. Na minha época, vivemos um mundo de PCs mais avançados, e meu sobrinho vive um mundo mobile e de acesso a internet através de video games.

Na família tudo transcorre mais facilmente… Eu ensino para a minha avó, para o meu pai, um pouco para o meu sobrinho, mas ele me ensina sobre como conectar no PS3, navegar na rede da Sony. Tudo na paz. Na diversão.

O que, creio eu, nunca foi discutido, é como isso tem afetado o mercado de trabalho.

Como trabalho com redes sociais, sou constantemente bombardeada com esse conflito de gerações no âmbito profissional. Vou mais além, as agências de publicidade digitais são lotadas de pessoas que como eu representam e coordenam os núcleos. Temos 20 a 30 anos… Somos multiconectados… Somos multitarefados, irriquietos e não pensamos tanto em quanto isso ou aquilo vendeu, mas sim quanto isso ou aquilo gerou adeptos, comentários… Buzz!?!

Outro dia, vendo um talk show, me deparei com Roberto Justus conversando com um dos fundadores do Instagram. Quando Justus o perguntou como ele ganhava dinheiro com o aplicativo, a resposta foi clara: “ainda não ganhamos dinheiro com ele, mas já é um sucesso”. Justus na mesma hora comentou que isso era uma das maiores diferenças que ele via entre os jovens empreendedores atuais, em comparação com os da época dele.

E tem sido esse o maior embate atual no mercado de trabalho.

De um lado temos jovens, frutos de uma geração Y, tentando – por exemplo – apresentar um projeto de Redes Sociais onde pensamos capacidade de viralização, buzz, branding da marca… E no outro lado do córner, Baby Boomers ou frutos da geração X que chefiam grandes empresas no país e que procuram em todo o tempo o ROI, quanto venderam, o lucro obtido, resultados mais concretos e palpáveis. Virou uma luta diária e muitas mentes pensantes tentando encontrar formas de aproximar essas duas visões.

A relação com minha avó, se não fosse pautada e não tivesse um alicerce de amor, provavelmente seria essa guerra de classes. É a minha avó de um lado mandando PPTs com correntes para o meu e-mail e de outro, eu implorando pra minha avó conhecer os aplicativos do iPhone. Eu falo uma língua alienígena pra ela. Ela fala uma linguagem arcaica e em desuso pra mim. Acho que jamais esquecerei esse fim de semana quando comprava os ingressos do cinema para minha irmã, sua família e eu através do aplicativo no iPhone e minha avó falou: “Ela tá comprando os ingressos no celular??? Como assim???”

Agora imagine essa diferença vista pelo prisma profissional, ao invés de virar um arco-íris como minha relação com minha avó, a luz tem sido direcionada direto para as córneas de um e de outro, virando uma cegueira de ambos os lados.

Os baby boomers, ou os filhos das Geração X, que defendem as grandes empresas, acreditam piamente que ao discordar de ações que não geram vendas rápidas e lucro, estão protegendo suas empresas da falência. Estão errados? Não, não estão. Mas do outro lado os jovens da geração Y lutam para levar as empresas para esse mundo hiper-mega conectado, dos quais são especialistas, estudiosos e experimentados. Nesse lugar maluco e paralelo onde baixar músicas e filmes não é sinônimo de perder dinheiro e sim de ganhar fama e prospecção. E eles – ou diria nós – estamos errados? Também não.

É cada um defendendo a sua prole e diante disso empresas trocam de agências digitais como mudam de roupa. Experimentam uma série de ações. Trocam de agência crendo na incapacidade. Depois resolvem fazer internamente. Ou então ficam no feijão com arroz. Oferecem um valor infinitamente pífio para o investimento digital e pagam os tubos por cinco minutos de anúncio na televisão.

Os salários vão pelo mesmo caminho. “Dinossauros” da criatividade “offline” ganham 5, 6 vezes mais que criativos “online”. Para piorar a situação, não só os jurássicos das empresas entram em guerra com essa geração maluca, mas a própria classe publicitária se divide. É o offline. É o digital. “Eles são velhos, pararam no tempo”, pensam os da geração Y. “Eles são jovens, inconsequentes… Como assim eles não imprimem qualquer alteração feita no arquivo? Não sabem se precaver”, pensam os baby boomers, os “geração X”.

Pior do que isso tudo é que ninguém está disposto a ceder. Os “Y” creem que os “dinossauros” jamais vão entendê-los ou respeitar suas opiniões. Os “X” e “BB” pensam que viveram e tem muitos anos nessa área – marketing, publicidade, gestão… – para serem ensinados por fedelhos que acabaram de entrar na faculdade, ou que acabaram de conquistar o canudo.

Ai de mim ter a solução para essa luta constante. Afinal, sou mais uma filha da geração “Y” que sofre com esse embate e tem buscado desesperadoramente por minimizar os ruídos da comunicação. Minha avó sempre disse: “É mais fácil achar a solução para os problemas quando você está fora deles”, mas eu não perco as esperanças.

Talvez esse desabafo alcance eco. Talvez não. Vendas e lucros eu tenho certeza que não vão gerar… Em sonho cogito – quem sabe um dia – imprimam este texto e coloquem nas mesas dos membros das minhas gerações antecessoras e façam eles compreenderem que não só eles sofrem por não nos entenderem, ou por vislumbrarem as genialidades de nossas criações, mas percebam que a gente também sofre por não se fazer entender e, por isso, não conquistar o valor – o retorno – daquilo que fazemos com tanto amor. Quem sabe um publicitário “digital” irá imprimir esse texto e mandar para o criativo “offline” e ao invés de pessoas, como eu, serem considerados meros “analistas de mídias sociais” (sim, com esse tom mesmo de ironia) sejam lembrados simplesmente como publicitários e criativos – como realmente o são – mas para ferramentas diferentes… As redes sociais.

No final, todos trabalhamos para o mesmo objetivo. Os publicitários “off” e “on” para conquistar mais contas, ganhar prêmios, notoriedade, ganhar dinheiro e ver suas criações gerando mais e mais frutos. As empresas e os publicitários digitais para levar o sucesso e o crescimento do seu cliente, reverberando – Deus é Pai – em seus salários. E assim chegarmos finalmente a Atlântida.

E quem sabe a Atlântida esteja logo ali. Oremos!

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